Render-se à acomodação ou persistir para alcançar seus objetivos, mesmo que estes sejam revolucionários? Tal conflito é tratado de forma instigante e exemplar no filme “Escritores da Liberdade” (Freedom Writers, EUA, 2007), baseado em uma história real.
A jovem professora Erin Gruwell, interpretada por Hilary Swank, vai lecionar em uma escola na cidade de Los Angeles na qual são constantes as brigas entre gangues rivais, disputa por espaços e grupos tentando se afirmar perante uma sociedade preconceituosa. Tal cenário, porém, não afasta a professora. Pelo contrário, torna-se estimulador, pois Erin está decidida a mudar a situação.
Essa decisão é revolucionária, uma vez que muitos professores já haviam entrado na sala 203, mas nenhum, com a esperança, dedicação e métodos inovadores da jovem, que muito lembram as práticas sugeridas por Paulo Freire no livro “Pedagogia da Autonomia- saberes necessários à prática educativa”. Uma delas é a de que “Ensinar exige saber escutar”: Erin está numa sala onde os alunos se olham estranhamente, participam de gangues e são envolvidos com tráficos. Ela não pode desconsiderar essa realidade.
Através de diários, nos quais os alunos escrevem suas angústias, sonhos e medos, Erin “dá voz” a esses jovens e compreende melhor seus universos, o que facilita na criação de um ambiente interacional entre educador e educando.
A alegria e esperança de Gruwell (preceitos também defendidos por Paulo Freire na formação de educadores) incomodam a diretora e os demais professores ditos conservadores, que tentam “castrar” e impedir, de qualquer forma, a concretização de suas idéias, o que torna sua tarefa ainda mais desafiadora e envolvente.
Pouquíssimos filmes me marcaram até hoje como o fez “Escritores da Liberdade”. É uma história espetacular que não só traduz a triste e séria realidade de muitas escolas, mas nos dá a alternativa para reverter o quadro.
Por Kalina Aires Soares